terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Alma vadia


Não me perguntem as paredes brancas
Das faltas dolosas que os dias transportam
Há um não sei quê de mistura a mel e a fel
Os passos marcando o chão imploram
Um pouco de tudo na ânsia de mais

Que não me pergunte a luz do dia
Pelas rugas no canto da boca
Ou tampouco o olhar mortiço do sol de inverno
Nas mãos o peso da calma é o tecto do mundo
Desaba aos poucos, inerte e estranha a quietude

Da saudade do teu gosto
No início da rua uma sombra aflora
Corre o coração apresado
Não é ninguém, é a alma vadia que assoma.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Azul real



No azul real o toque de um beijo
Que assola das profundezas
Mistura doce de força e desejo
Quietude morna ou incertezas

Nas páginas quietas que solta o mar
As recordações num breve ir
Porque será que o tempo teima em fugir
A vista teima em ficar, ali a quietude
De quem se atreve a sondar
O mar o vento tudo amiúde

No parapeito fica o almejo
O apelo à intimidade
Fica também um certo festejo
Na leitura a insanidade

Que busca luxuria certa
Nas linhas escritas a preto
Ai de quem se atreve e levanta
O véu de um mundo secreto.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Estrada



O vento sopra lá fora e eu tenho saudades!
Saudades tuas, tão frias tão cruas.
Da tua voz que me aqueceu nos instantes gélidos.
Das mãos que percorreram os meus cabelos.
Saudades do mau humor, dos ralhos sem sentido
do riso, do teu amor sem instante preciso.

O vento sopra lá fora e eu peço a Deus:
Que traga leveza na hora em que eu recordo o adeus.
Contudo: que se atreva a levar até ti a recordação.
Da minha existência, e quem sabe, uma pequena visão.

De tudo aquilo que foi, momentos, apenas momentos!
Que a vida constrói e logo a seguir destrói.
Sem medir sofrimentos. No uivar do vento a saudade...
Das nossas mãos enlaçadas, do nosso rosto cansado.
Da nossa empoeirada estrada.